COLEÇÃO 2024/25

Via Coeli

Certos símbolos atravessam os séculos e culturas porque falam direto à estrutura profunda da psique. Não são apenas imagens, são expressões vivas do inconsciente coletivo. A série Via Coeli parte desse princípio: é um conjunto de obras inspiradas na simbologia astrológica como campo de escuta e transformação. 

O zodíaco aparece aqui como uma matriz simbólica que organiza doze qualidades arquetípicas da experiência humana. Cada imagem nasceu do contato com essas forças forças que não apenas se expressam no céu, mas que também se manifestam no corpo, no comportamento, nos estados interiores nossa forma de existir no mundo. 

Não somos apenas um signo. Em nós, habitam os doze, às vezes integrados, às vezes em conflito, às vezes ocultos. Em cada alma existem regiões às quais a luz ainda não chegou. Via Coeli convida à escuta dessas regiões. Ao contato com o que está eclipsado. A proposta não é interpretar, mas experienciar, estar presente. Permitir que os símbolos nos atravessem e ativem, no nível mais sutil, processos internos de autodescoberta. 

A astrologia, nesse contexto, é tomada como uma ferramenta ancestral de leitura da psique. Não como previsibilidade ou rótulo, mas como sistema simbólico que expressa tensões, padrões e dinâmicas que nos atravessam. Os signos operam como imagens primordiais arquétipos vivos, que, ao serem experienciados em conjunto, podem atualizar conteúdos do inconsciente e reorganizam percepções fragmentadas da alma. Como apontou Carl Gustav Jung, o símbolo é a linguagem natural do inconsciente — e se abrir para essa comunicação é um passo essencial no caminho da individuação. 

Durante o processo criativo, parti da iconografia tradicional de cada signo, permitindo que suas formas e significados operassem como estímulos simbólicos — capazes de acessar camadas internas que não passam pela via racional. O simbolo nos toca sutilmente antes do pensamento, reorganizando silenciosamente os afetos, as associações, as aversões, o que vemos e o que sentimos. É nesse ponto de contato entre forma, memória e presença que os desenhos nasceram. 

A criação, nesse caso, não foi apenas um exercício estético, mas um processo de integração psíquica. Enquanto desenhava cada obra, foi como mergulhar na totalidade de cada signo em seus extremos, sua complexidade e consequentemente na expressão mais virtuosa que cada um aporta, abrindo espaço para reorganizações internas que não se explicam, mas se sentem. Produzir essas obras foi profundo e terapêutico, pois me fez sentir e entender muitos novos pontos de vista dentro de mim, pontos que emergiram ao entrar em contato íntimo com a simbologia de todos os signos. 

Via Coeli propõe uma pausa e uma escuta da alma. O silêncio entre as linhas convida o olhar a entrar. Não há excesso. Não há ruído. Há espaço para ressonância.

Mais do que uma exposição visual, esta série é um convite à auto reflexão: Cada obra é um fragmento do inconsciente coletivo, onde o olhar atento pode encontrar vestígios de si mesmo. 

“Você não é uma gota no oceano. Você é o oceano inteiro em uma gota.”

Rumi (poeta sufi)

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